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“Déjà vu”: responsabilizando as mulheres pela reprodução sem garantir seus direitos
19 de Abril de 2021. sxpolitics.org
Imagem: Isma Gul Hasan, Quarantzine 03
Em julho de 2020, grupo de investigadoras/es em saúde reprodutiva publicou artigo no International Journal of Gynecologists and Obsetricians (leia em português) sobre a elevada incidência de mortes maternas decorrentes da COVID-19 no Brasil, que então possuía uma média 3,4 vezes maior em comparação ao resto do mundo. Em abril de 2021, um estudo do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19), divulgado pela Folha de São Paulo no dia 14 de abril, informa que nas primeiras 43 semanas de pandemia em 2020 foram registradas 449 mortes no Brasil, aproximadamente 10 mortes a cada semana. Já nas 13 primeiras semanas de 2021, registraram-se 289 óbitos, que significou um crescimento de mais de 100% (em torno de 22,2 mortes por semana).
Quase um terço dessas mortes maternas podem ser atribuídas à falta de assistência adequada, em particular pela falta de leitos em UTIs e intubação. Esse quadro é especialmente deletério considerando as desigualdades regionais. No Pará, por exemplo, quase metade (46%) das grávidas que morreram por COVID-19 não tiveram acesso a cuidados intensivos. E registram-se situações dantescas, como a administração criminosa de hidroxicloroquina inalável em grávidas e puérperas, que pode ter levado à morte de algumas, no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu, em Manaus. A “técnica experimental”, mais bem comparada a um experimento nazista, foi realizada por um casal de médicos que apoiam o “tratamento precoce” e violou todas as normas éticas e boas práticas nacionais e internacionais. Segundo apuração da Folha de São Paulo, somente duas pacientes assinaram termo de consentimento, das cinco que foram submetidas à nebulização, e quatro morreram. Ainda mais aterrorizante é o fato de que vídeo de uma das pacientes durante a nebulização está sendo utilizado como propaganda do tratamento precoce mesmo após a sua morte por membros do Executivo nas redes bolsonaristas. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência Onix Lorenzoni foi um dos principais disseminadores da peça, que já teve mais de 132 mil visualizações.