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Mecônio na Gravidez e Parto

06 de Janeiro de 2025. Por Melania Amorim

O mecônio, primeira evacuação do bebê, tem uma cor esverdeada e uma consistência viscosa, semelhante a piche. Ele é composto por secreções intestinais, células descamadas, bile e resíduos do líquido amniótico. Durante a gestação, a presença de mecônio no líquido amniótico pode ser interpretada de diferentes formas, dependendo do contexto clínico e do momento em que ocorre.
A eliminação de mecônio ocorre em cerca de 12 a 20% dos partos e, na maioria das vezes, é um processo fisiológico que reflete a maturidade intestinal do feto. No entanto, em algumas circunstâncias, sua presença pode estar relacionada ao sofrimento fetal, o que exige avaliação criteriosa para diferenciar os dois cenários.
Relação entre idade gestacional e eliminação de mecônio
A frequência de eliminação de mecônio aumenta conforme a idade gestacional avança:
Antes de 37 semanas: o líquido amniótico meconial (LAM) está presente em cerca de 4% dos partos.
Partos a termo: aproximadamente 10% a 20% dos partos apresentam líquido amniótico meconial (LAM).
Partos pós-termo: a incidência de líquido amniótico meconial (LAM) aumenta para 30% a 40% dos partos.
Por que o feto elimina mecônio?
A eliminação de mecônio durante a gravidez pode ocorrer por dois motivos principais:
1. Maturidade Fetal
O intestino do feto começa a funcionar adequadamente, o que é um sinal de desenvolvimento normal e maturidade.
Nesse caso, o feto bem oxigenado, que elimina mecônio por maturidade, não apresenta qualquer risco à saúde. Isso é considerado parte do processo natural de maturação.
Esse bebê também urina no interior do útero, e a urina contribui para a produção de líquido amniótico. Quando há um volume adequado de líquido amniótico, o mecônio se dilui e o líquido adquire uma coloração esverdeada, conhecida como “tinto de mecônio” ou “mecônio fluido”. Esse cenário é benigno e não exige intervenções específicas.
É importante ressaltar que a maioria dos casos de eliminação de mecônio ocorre por esse motivo fisiológico, ou seja, pelo amadurecimento do intestino fetal. Nesses casos, o prognóstico fetal é excelente, e não há necessidade de preocupação ou intervenções adicionais.
2. Sofrimento Fetal
Quando o feto sofre uma privação de oxigênio (hipóxia), o corpo entra em estado de alerta. O intestino se contrai de forma reflexa e os esfíncteres relaxam, assim como ocorre com os humanos em situações de estresse.
Nesse caso, o mecônio liberado pode ser sinal de que o feto está sob estresse, especialmente se vier acompanhado de alterações nos batimentos cardíacos fetais.
O risco de complicações aumenta se houver aspiração do mecônio para os pulmões, especialmente se o bebê, em decorrência da hipóxia, fizer movimentos de “gasping” (ofegantes) dentro do útero, o que permite a entrada de líquido amniótico nos pulmões. Isso pode desencadear a Síndrome de Aspiração Meconial (SAM), uma condição grave que requer cuidados neonatais intensivos.
Mecônio diluído vs. mecônio espesso
Na maioria das vezes, a presença de mecônio não é motivo de alarme. O contexto clínico e as características do líquido amniótico são fundamentais para a interpretação:
1. Mecônio diluído (ou tinto de mecônio)
Ocorre quando há um volume adequado de líquido amniótico.
Como o mecônio se mistura ao líquido, o aspecto fica esverdeado, mas sem formar grumos ou espessamento.
Geralmente, não traz repercussões clínicas importantes, especialmente se a frequência cardíaca fetal está normal e o bebê não apresenta sinais de sofrimento.
Na imensa maioria dos casos, o líquido amniótico tinto de mecônio reflete apenas a maturidade do intestino fetal, sendo, portanto, uma manifestação fisiológica e sem qualquer prejuízo ao bem-estar do bebê.

2. Mecônio espesso (ou “papa de ervilha”)
Ocorre quando há redução do líquido amniótico, o que pode acontecer de forma fisiológica no final da gravidez (após 40 semanas) ou nas gestações pós-termo (após 42 semanas).
Também pode ocorrer devido a insuficiência placentária, que diminui o fluxo sanguíneo para os rins fetais, comprometendo a produção de líquido amniótico.
Nesse caso, o mecônio adquire uma consistência pastosa, semelhante a “papa de ervilha”, e pode estar associado a maior risco de aspiração.
Risco de Síndrome de Aspiração Meconial (SAM)
A Síndrome de Aspiração Meconial (SAM) ocorre quando o feto ou o recém-nascido aspira o mecônio, o que pode desencadear uma grave pneumonite química nos pulmões.
No entanto, isso NÃO acontece com todos os bebês com mecônio e nem mesmo com todos os bebês que aspiram mecônio. A SAM ocorre em apenas 2-5% dos bebês expostos ao LA meconial. Entre os bebês que aspiram mecônio, 30% requerem suporte ventilatório e a mortalidade é de 3-5%
Quem está em maior risco?
Bebês que apresentaram sofrimento fetal antes ou durante o trabalho de parto, especialmente se o padrão de batimentos cardíacos for “não tranquilizador” (alterações na frequência cardíaca).
O bebê em sofrimento pode realizar movimentos de “gasping” (ofegantes) ainda dentro do útero, o que facilita a entrada de mecônio nos pulmões.
Se o recém-nascido nascer com baixo vigor ou em apneia, a aspiração de mecônio é mais provável.
Existem medidas preventivas?
A amnioinfusão intraparto reduz a incidência de síndrome de aspiração de mecônio e melhora os desfechos neonatais em gestantes com líquido amniótico tingido de mecônio, conforme evidenciado por uma revisão sistemática e meta-análise de 2023 (Davis et al, 2023).
Como identificar se o feto está em sofrimento?
Para distinguir se o bebê está em sofrimento, é essencial avaliar o bem-estar fetal durante a gravidez e, especialmente, no trabalho de parto.
1. Ausculta intermitente
Realizada com sonar Doppler de forma periódica, em intervalos estabelecidos durante o trabalho de parto.
Permite verificar se os batimentos estão regulares e tranquilos.
É o tipo de monitorização da vitalidade fetal recomendada para as parturientes de baixo risco (ou risco habitual).
2. Cardiotocografia (CTG) contínua
Realizada de forma contínua, especialmente em partos de risco ou se houver necessidade de avaliar melhor os batimentos em função de uma ausculta intermitente alterada.
Identifica variações na frequência cardíaca fetal e suas respostas às contrações uterinas.
O que fazer se o padrão de batimentos cardíacos for “não tranquilizador”?
Se o padrão de BCF for “não tranquilizador”, ou seja, se houver desacelerações persistentes, desacelerações tardias ou ausência de variabilidade, está indicada a antecipação do parto:
1. Se a mulher estiver no período expulsivo (dilatação completa):
Pode ser indicado o uso de instrumentos para o parto vaginal assistido (ou instrumental), como fórceps ou vácuo-extração, para acelerar a expulsão do bebê.
2. Se a mulher estiver no primeiro estágio do parto (dilatação incompleta):
A melhor alternativa é a cesariana de urgência para proteger o bem-estar fetal.
Medidas de reanimação fetal são necessárias, como:
a) Interromper a administração de ocitocina, se estiver sendo utilizada.
b) Otimizar a posição da parturiente, aliviando a compressão aortocava.
c) Administrar fluidos intravenosos se a parturiente estiver hipovolêmica.
d) Administrar oxigênio se a mãe estiver hipoxêmica (como no caso de infecção aguda por COVID-19)
Conclusões:
1. O mecônio pode ser um sinal de maturidade fetal ou de sofrimento fetal, e a distinção entre ambos é crucial para a conduta clínica.
2. A presença de mecônio diluído no líquido amniótico geralmente não requer intervenções, especialmente se o bem-estar fetal for confirmado pela ausculta dos batimentos cardíacos.
3. O mecônio espesso levanta preocupações sobre a possibilidade de insuficiência placentária ou volume reduzido de líquido amniótico, especialmente em gestações pós-termo
4. O maior risco associado ao mecônio espesso é a Síndrome de Aspiração Meconial (SAM), que só ocorre se o feto estiver em sofrimento e realizar movimentos de “gasping” dentro do útero.
6. Na imensa maioria dos casos, o mecônio é um achado fisiológico que não requer intervenções e, isoladamente, não constitui indicação de cesárea. A disponibilidade de estratégias preventivas e intervenções, como a amnioinfusão e o monitoramento contínuo, reforça a possibilidade de minimizar riscos e promover desfechos neonatais positivos. O cuidado obstétrico humanizado e baseado em evidências fortalece a confiança na condução do trabalho de parto e no bem-estar de mães e bebês.
Referências
1. Brasil, Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília: Ministério da Saúde; 2017. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf
2. Cunningham, F. G., Leveno, K. J., Dashe, J. S.. Williams Obstetrics, 26th ed., 2023. New York, NY: McGraw-Hill Education.
3. Davis JD, Sanchez-Ramos L, McKinney JA, Lin L, Kaunitz AM. Intrapartum amnioinfusion reduces meconium aspiration syndrome and improves neonatal outcomes in patients with meconium-stained fluid: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol. 2023 May;228(5S):S1179-S1191.e19. Disponível em https://www.ajog.org/article/S0002-9378(22)00617-2/fulltext
4. Gallo DM, Romero R, Bosco M, Gotsch F, Jaiman S, Jung E, et al. Meconium-stained amniotic fluid. Am J Obstet Gynecol. 2023;228(5 Suppl):S1158–S1178. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10291742/
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